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domingo, 21 de novembro de 2010

Balada [ao que partiu daqui]

Podes vir, sem medo. Aqui, nesta casa de pedra, há lugar para ti. Temos a mesa posta e o coração pronto para um abraço, aquele que levaste contigo, quando bateste a porta, engoliste as lágrimas e foste à procura de mundo.
Podes vir. A ilha nunca mais foi a mesma na tua ausência. Nem nós. Andamos mais velhos, mais sós. Andamos mais longe de nós. As nossas mãos seguram o vazio que tem a forma oca das tuas. As nossas pernas prendem-se cada vez mais ao chão, árvores desertas de verde. Os nossos olhos estão presos ao balcão donde vigiamos o horizonte.
Podes vir, sem medo das palavras. Nem dos silêncios. Nem dos intervalos entre as palavras e os silêncios. Quando nos avistares, as aves hão-de ensinar-te a melodia para a palavra que esperamos:
-voltei.
Quando chegares, o vento há-de pendurar nas ramagens o perfume do perdão, da alegria, dos sorrisos que guardámos no fundo das arcas para o momento de voltar a ver os teus olhos, líquidos de mar. A saudade. Então, as marés hão-de deixar escritas no calhau, com a renda branca da espuma, a esperança de um tempo novo.
Quando chegares, a terra há-de ficar grávida de Primavera, mesmo que seja Outono. As andorinhas hão-de regressar sem medo do Inverno e cartografar o nosso futuro, no céu da nossa esperança. Vamos acender os balões de S. João nas parreiras castanhas de Novembro. E vamos ser felizes. Outra vez.
Podes vir, sem medo de chorar. Temos a mesa posta e o coração pronto.
Estamos à tua espera.

1 comentário:

  1. Como é bom ter uns braços à nossa espera, prontos e abertos para receber um andarilho.
    E ter um ombro onde chorar a angústia
    E ter uma mão carinhosa que cure as feridas.
    Mas o melhor de tudo é ter o perdão à espera
    do ausente arrependido ter ter partido.

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