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terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Este Natal serei sino

Este Natal, serei sino. Hei-de anunciar que, na Belém da minha terra, entre a luz e a alegria, vai nascer o Salvador. Hei-de falar de um amor-menino que incendiará o mar que banha a minha cidade. Hei-de pendurar a música das minhas palavras nos ramos do meu presépio e calar os gritos com cantos e as solidões com abraços.
Este Natal, serei sino. E, à meia-noite em ponto, quando a Senhora me disser:
- nasceu. É teu,
cada badalar há-de acordar os silêncios negros da noite e acender as estrelas.
Então, a minha voz terá sentido. E eu oferecerei as doze badaladas. Um presente de Natal. O meu:
- aos que me amam e aos que não me conhecem;
- aos que me encontram e aos que fogem de mim;
- aos que me limpam as lágrimas e aos que se derramam no meu choro;
- aos que me dão o seu tempo e aos que nunca sabem de mim;
- aos que me abraçam e aos que me viram a cara;
- aos que me ajudam na luta e aos que me fazem desistir.
Este Natal, serei sino, serei a voz dos que falam e a dos que não têm voz. E a música do meu Glória há-de ser
- Deus nasceu! É teu.
Este Natal, serei sino. O verdadeiro sino de Natal.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Outras guerras?


Estou a voltar. Devagarinho. Tenho andado por aí, a fazer outras coisas, a pensar noutras coisas, a escrever outras coisas. Os meus dias têm sido um bocadinho assim: peças que vou juntando, no cuidado de deixar poucas coisas pelo caminho, organizando a minha guerra.
Se tem sido bom? Tem. Mas já tinha saudades de voltar.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

do fundo da terra


Algar do Carvão. Ilha Terceira. Açores.
De dentro da terra, um buraco de luz. Um sorriso dos céus. Apesar do frio. Apesar da chuva. Apesar da noite que nos guarda o medo. Apesar do silêncio que nos afoga os gritos. Apesar de tudo. apesar do tempo. A Luz.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

SETEMBRO

Já as uvas beberam o sol. Já o silêncio dos pátios se enfeita de gente. Já são novos os livros e as esperanças e os futuros. Já a escola nos chama de manhã. Já.
Vai começar. Outra vez. que seja um começo feliz! Porque, se vamos começar, é sinal de que podemos começar.
Por isso, mesmo que já não haja uvas, nem silêncios, nem férias, nem mares, há o milagre da saúde que nos permite trabalhar.
Um bom ano lectivo!

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Em S. Miguel...


Deus desenhou a ilha e soprou-lhe vida. E ela explodiu em verdes e azuis e silêncios e distâncias. Deus ficou feliz com a sua obra.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

Lisboa...


Lisboa acordou cedo, na pressa de ser azul. Gaiata, desceu a Avenida, balançando as ancas, gritando pregões antigos e baixando a cabeça , não fossem os braços das árvores lhe despentearem os cabelos.
Vai à procura do Tejo que, nestes dias claros de Verão, brinca que é mar e espreguiça-se, iluminando a cidade, sua amante, com quem dormiu a noite toda, embalado num fado que vem não sei de onde e vai por aí, à procura de mundo.
Talvez fosse esta a Lisboa do meu antigamente. Porque, agora, apenas guarda o azul, o céu claro de outros tempos, o grito silencioso dos pregões e mais nada. Estava um bocadinho triste a cidade, esta manhã. Vazia. Fechada. O passado esconde-se atrás das grades que cerram as montras, as portas, os olhos dos empregados (poucos, já) que olham o deserto das ruas.
Lisboa tem saudades de ser feliz, de não ter medo das esquinas, de vender flores aos namorados. Lisboa tem saudades de ser azul. E eu, tenho saudades de Lisboa.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

ABRAÇO AZUL


( a propósito da exposição "Abraço Azul " de Carla Cabral, Galeria dos Prazeres)


Guardo as minhas palavras neste abraço azul. Redondo como todos os abraços. Fecho-as num coração que se desenha na linha perfeita da filigrana e penduro-o ao peito.
Ato as minhas palavras ao bordado das formas e deixo-as ser mar, porque azul. Deixo-as ser maré e envolver as telas. Deixo-as entrar em cada quadro para dizer que há gritos que escondem silêncios, que há braços à espera de abraços, que há segredos (quase) meninos à espera de tempo, que há sonhos (quase) reais à espera de vez.
Perdi palavras pelo caminho. Deixei-as nos olhos que fechei e enterrei no colo, outra vez. Foi então que uma ave, a asa de uma ave, o sopro azul do voo de uma ave as salvou. Um abraço. Redondo. Azul. Um abraço apertado como são todos os abraços.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Venham sempre...

Não riam. Mas fiquei com saudades dos meus companheirinhos de blogue. Fiquei com saudades dos comentários e dos mimos. Fiquei com saudades das gargalhadas da Agapê, dos cuidados da Nanda, da ternura da Seni, da força da Tina, do apoio do Jordas, da seriedade da Nobita. Fiquei com saudades da Dêpê que eu tinha perdido há tantos anos e que agora voltou, disponível, para me ensinar estas coisas dos tempos novos.
Não riam. Ainda ninguém se foi embora e

Ok! Vai passar… até porque percebi que este é mais um lugar de encontros, mais um sítio onde se vê os amigos, mais um lugar nosso.

Um agradecimento especial à Dêpê. Por causa dela, fizemos aqui um ninho. Por causa de um tempo que ela faz render e de uma força que parece não acabar.
Um beijo a todos. Boas Férias. Fico à espera que apareçam. Eu digo o que diziam as velhas da minha meninice:
- Venha sempre!

domingo, 12 de julho de 2009

Ao M&M e aos outros


Passamos o ano a sonhar com Julho, mas quando a última actividade se realiza, há um travo amargo na boca, apesar das gargalhadas, apesar da alegria, apesar do sol e do calor. Talvez porque se fecha alguma coisa. Talvez porque se acaba sempre por perder algumas pessoas que nos acompanharam ao longo de parte da nossa vida. Talvez porque.
Hoje, aproveito este lugar que a Dêpê nos mostrou, para agradecer a todos os que, ao longo deste ano (e dos outros,claro!) contribuíram para que a minha vida fosse mais feliz, enfeitando-a de gargalhadas, de palavras boas “das que nos beijam como se tivessem boca”, de abraços redondos e quentes, de gestos-beijos.
Passem por aqui, de vez em quando. A minha casa é a vossa casa. E, para o ano, nas Mercês, em S. Martinho, ou noutro sítio qualquer, sempre que precisarem de mim, contem comigo!

domingo, 28 de junho de 2009

Um bocadinho de azul


Apenas para contrariar.

Apenas para lembrar que, apesar da chuva, Junho já anda por aí, de arco e balão, a molhar os pés na babugem do mar.

Estamos a um passo das férias. Apetece-me pensar em mar e sossego, em paisagens de longes desconhecidos. Apetece-me dizer

- está quase,

mesmo sabendo que não é já, que ainda há o resto do ano para arrumar.

Um bocadinho de azul - apenas para contrariar a chuva e o nevoeiro que batem à minha janela.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Quase.

No vagar de quem tem pressa, Junho vai chegando, mais ou menos azul, mais ou menos preguiçoso, mais ou menos.
No olhos dos miúdos, o desejo do fim. Como nos nossos. Um desejo de silêncio e de distância. Um desejo. Apenas um desejo.
Antevemos o mar das férias a encaracolar a espuma na areia ou a despentear os calhaus. Vislumbramo-lo pelas frestas das nossas janelas. Porque, por agora, fazemos de conta: que os papeis são o mar, que o cansaço é mentira, que não há exames, nem reuniões, nem vida para além da nossa.
Por enquanto, a nossa gargalhada vai abrindo clareiras. Como os sorrisos. Os abraços. Nossos.

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Um pingo de sol...no Porto Santo (a pedido da Agapê)


Foi assim:
a convite da Escola do Porto Santo, fui participar na Feira do Livro. Largo das Palmeiras - convocatória para as 9 da noite, na tenda montada pela única livraria da ilha - Orpheu Rebelde. Reunião de Grupo de Português, com a presença dp presidente da escola e da presidente do CCE. Ordem de trabalhos: livros. Estivemos na conversa até à meia-noite, falámos do Pingo, os colegas leram alguns excertos e houve sessão de autógrafos. Até houve apostas quanto a casa de que falo no livro. Entretanto, foi chegando gente e a roda de cadeiras foi aumentando. Vieram professores de outros grupos com as familias e a conversa foi animada.
No dia seguinte, porem, havia trabalho e a delegada foi buscar-me a casa às 8h15. Madrugada. A ideia era que eu participasse na apresentação dos trabalhos dos alunos de 11º ano que tinham estudado o Pingo de Sol.
Sabem, o nó que aperta a garganta? Nunca pensei em mim assim. O meu conto deu origem a peças de teatro, a apresentações em PP, a canções, a caixas com fotografias de outros tempos, a canções feitas de propósito, a poemas declamados, a marcadores, a uma exposição de pintura.
Fiquei um pavão.
Depois, falei eu. Nada do que tinha preparado. Fui atrás das questões deles que me imaginavam outra que não eu.
E pronto: o trabalho acabou no Restaurante Salinas. A cultura; por si só, não enche a barriga

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Um pouco de mar...


Cheguei de lá. Fui falar de livros e ouvir falar do meu Pingo de Sol. Lembrei-me de vocês. O mar e a areia mandam saudades.

sábado, 30 de maio de 2009

Irene Lucília - em jeito de homenagem

CARTA A IRENE

Perdi palavras pelo caminho. Ontem, sabia de cor as histórias que o vento contava ao ouvido da minha infância. Ontem, acreditava que o Tordo cantava para mim e me enfeitiçava os sonhos de palavras verdes. Ontem, eu era Angélica e amava o mar e a serra e tinha olhos de horizontes e amanhãs. Ontem, também eu tinha corpo de ilha e ia consigo, com um pé dentro d’água e um poema na mão.
Voltei, agora, Irene, a lembrar-me dos cisnes, porque a hora se imobilizou nos versos que reli e que voltaram a derramar Água de Mel na solidão branca desta folha vazia.
Talvez tenha vergonha das palavras, porque Atena não canta e o Tempo protesta porque não tem tempo de abrir mais portas, porque o vento reclama a vida, porque, Irene, as minhas mãos não sabem amansar os frutos, nem desfazer as tintas, nem dizer as notas que se penduram nos beirais das pautas, quando o sol se põe e a rua adormece.
Só me resta o silêncio do fim do caminho, que não é o da Penteada, mas o dos afectos, o dos significados imprecisos, o das sintaxes imperfeitas.
Assim: espalhei as memórias sobre a mesa e peguei nos silêncios - silêncios de asas, silêncios de mar alto, silêncios de gaivotas que dormem nas “folgas do sol”[1]. Fui em busca de mim na ternura azul com que canta a ilha, no arrepio que faz estremecer os jacarandás, na simplicidade pequenina da voz que tem derramado por esta cidade à beira do mar, à beira do desejo, à beira de ser barco, à beira de qualquer coisa maior.
E encontrei cheiros antigos a subir as calçadas, gritos de estrelas no vazio das noites; encontrei “a luz grega de Setembro”[2] dentro dos cestos que transportaram as minhas angústias e que eu transformei em vinho.
Pelas suas mãos, sentei-me “à sombra do grande mistério / de pensar”[3], para que o tempo pudesse amadurecer as palavras. Pelas suas mãos, Irene, como pela mão de outros poetas, conheci as luzes e as sombras, abracei, perplexa, o coração das ruas e quis ser porto e navio, terra e gaivota. Às vezes, gostaria de ter sido eu a escrever que “O sol vem pôr-se em meus olhos / porque a montanha sou eu”[4]. Às vezes, Irene, tenho vontade de ser poeta. Como agora, neste instante vazio em que me faltam as metáforas.
Dá-me licença, Irene? Deixe-me defini-la assim: “Repartida. Presa pelo sentir. Liberta pelo pensar. Pedra e nuvem; raiz e asa; fogo e orvalho; amarra e oceano”[5] . Vejo-a assim: ancorada ao porto com vontade de partir; ilha e viagem. Leio-lhe uma alma maior que o corpo, que se derrama no desenho desta cidade que partilha comigo.
Devolvo-lhe o silêncio que me cura as palavras. E digo-lhe que sim, que vale a pena, que o seu nome continua a acordar as marés. Permita-me outra ousadia, Irene. Lembra-se da Rosa Panchera[6]? Vou roubar-lhe a frase e fazer dela a minha voz: “Não se vive por acaso, meu amor!”[7]

[1] Andrade, Irene Lucília, Angélica e a sua espécie, Ed. Signo, Ponta Delgada, Açores, 1993: 15
[2] Andrade, Irene Lucília, A mão que Amansa os Frutos, Ed. Cadernos da Ilha, nº 4, Funchal, 1991: 14
[3] Idem, ibidem: 19
[4] Andrade, Irene Lucília , Ilha que é Gente, DRAC, Funchal, 1986:21
[5] Andrade, Irene Lucília, Angélica e a sua espécie, Ed. Signo, Ponta Delgada, Açores, 1993: 30
[6] Ref. a personagem de Andrade, Irene Lucília, Angélica e a sua espécie, Ed. Signo, Ponta Delgada, Açores, 1993
[7] Andrade, Irene Lucília, Angélica e a sua espécie, Ed. Signo, Ponta Delgada, Açores, 1993: 62

In: Revista Margem, 29 de Maio de 2009

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Bem Vindos, amigos!

Porque somos mais. Porque estamos juntos. Porque a família vai crescendo. Porque nos enriquecemos. Porque sim.

Bem vindos, colegas! O meu espaço é tambem a vossa casa. Partilhemos as palavras. Porque as palavras são redondas como abraços.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Vamos acordar as fadas? - II

- Era uma vez.
Começou assim a minha história de amor: eu e os livros, eu e as florestas encantadas, eu e o tempo do
- foram felizes para sempre.
Cresci, assim, embalada no beijo que se seguia à história e me aconchegava o dia num sono reparador com mão de mãe:
- Dorme bem, meu amor.
E eu dormia. Porque os anjos e as fadas velavam os meus sonhos e impediam que as bruxas e os dragões me acordassem o medo. Depois, cresci. Os livros cresceram comigo e trouxeram – me as aventuras dos Cinco e dos Sete, os lanches que apeteciam comer, a liberdade de um mundo sem adultos, a alegria do dever cumprido.
Mas a vida (a minha vida, meus amigos) precisou de outras palavras, de outras histórias, de outros lugares, de descobertas de coisas reais. Percebi, então, que eu vivia dentro dos livros, que as histórias que eu lia eram as minhas histórias que alguém tinha passado a limpo. Lê-las era recebê-las de presente.
- É tua. Foi por ti que a escrevi.
Com os livros, ri e chorei. Foram eles que me aqueceram o peito quando a noite me encontrou triste ou cansada. Com eles, ouvi a música das palavras, fui à lua, olhei directamente para o sol e acreditei que a felicidade era possível.
A vida, porém, levou-me a guardar as fadas e os príncipes no fundo de mim. Escondi as palavras no baú do que fui. E fiquei mais só. Esqueci-me de que o lugar dos livros é no coração e que o tempo para ler é um tempo roubado ao tempo social de viver, de trabalhar, de estar na moda. Onde é que eu perdi aquela espécie de feitiçaria em que o escritor se encontrava comigo e éramos felizes?
Mas, a verdade é que, todos os dias, somos os protagonistas da nossa própria historia. Todos os dias, lemos e escrevemos a nossa vida. Mas, só nos livros, podemos escolher sonhar ou sofrer, partir ou ficar, voltar para trás, reler, saltar páginas, ou simplesmente, suspender a viagem.
Os livros querem morar dentro de nós. Querem construir connosco um amor para a vida. No silêncio que guardam as palavras. Na saudade do tempo em que o
- era uma vez
tinha voz de mãe ou de professora, voz de mel e de cerejas.
Eu gostava muito de tentar. Outra vez.
Ajudem-me, então, a acordar as fadas que dormem nos livros e que nos enfeitavam as noites de antigamente. Ajudem-me a restaurar as minhas asas para irmos, juntos, à floresta encantada das personagens de papel, à clareira onde se esconde o beijo com que o Príncipe acordou a Bela Adormecida. Preciso de gente de boa vontade. É urgente restaurar o sonho que se perdeu de nós numa das ruas da nossa vida.

(texto publicado na página da DRE- Baú de leitura)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Romeiro, quem és tu?

"- Romeiro, quem és tu?
- Ninguém."
- E tu, professor?
Nada. O professor não diz nada. Cala as palavras no silêncio, porque não sabe que resposta dar: já foi saber, já foi pilar, já foi abraço.
- Quem és tu, professor?
Nada. O professor não diz nada. E, mesmo que dissesse... E mesmo que explicasse ...
A sala está deserta. Os miúdos esconderam-se dentro dos computadores. O professor não conhece esse mundo. E tem medo. Dentro do computador, não há lugar para o seu nome, não há lugar para a sua voz, não há lugar para a doçura do seu olhar.
O professor está perplexo - não sabe o que há-de fazer do seu abraço.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

E agora?

Onde fica o futuro? Onde estão os alunos que sempre tivemos, os que sempre quisemos ter, os que gostariamos de ter tido e nunca tivemos? Onde está a sede de saber outras coisas? Onde está o
- professora (que é pressora), o toque , já?
Parámos no cansaço antigo das aulas de quadro e giz, de uns bonecos para o pontapé de saída das aulas. Ficámos aí. Juntos. Completamente sozinhos. Nós e os alunos.
E tal como o poeta dizemos que não vamos por aí. Mas então, vamos para onde? Como? POr onde? Com quem?

terça-feira, 12 de maio de 2009

Porque é 12 de Maio...



Mãe,

guardei a lua para te oferecer esta noite. Trouxe-te a luz dos caminhos, o canto dos peregrinos, o silêncio das noites. Trouxe-te o melhor de mim, apesar da vida e do tempo e do medo. Trouxe-te quem sou: às vezes sorriso, às vezes desespero, às vezes abraço, às vezes solidão.
Vim, Mãe Santíssima, porque em ti encontrei a minha casa. Mesmo quando a noite me apagou a esperança, quando a dor me choveu nos olhos e me derramei no chão. Vim, Senhora de todos meus passos, porque sempre houve lugar para mim no abrigo azul do teu manto, na ternura branca dos teus silêncios, nas palavras caladas, guardadas na cruz do teu Filho.
Esta noite, olhaste outra vez para os meus olhos e disseste – me:
- Eu estou contigo.
Eu sei, Mãe. Senti-te à beira da minha cama, nos momentos de pedra; senti-te estrela, nas alturas de alegria; senti-te presença na hora das lágrimas.
Por isso, só me resta colar os meus olhos aos teus, as tuas mãos às minhas e agradecer-te, da pequenez da minha humildade por nunca teres largado o meu coração.
Senhora de Fátima, peço-te, esta noite, aquilo que eu, no segredo de mim, pedia à minha mãe antes de dormir: Se eu me perder, encontra-me. Ámen.


segunda-feira, 11 de maio de 2009

Regresso aos livros

Voltei. Tenho andado um pouco por aí, a falar de livros, de palavras e da importância que a leitura tem na nossa vida.

Será impressão minha ou os miudos do campo ainda acreditam no poder dos livros? No entanto, têm (quase) todas as modernices que os nossos têm.

Será que nós, profs da cidade, desistimos de ensinar a gostar de ler?

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Vamos acordar as fadas?

Não me perguntem porquê, mas a minha relação com os livros é (quase) uma história de amor. De amores, talvez. Um lugar de encontros e desencontros, de procuras e de descobertas, de memórias minhas que alguém passou a limpo e delas fez uma história que, no momento em que a leio, é minha.
Isto é assim desde que me lembro de mim, desde o tempo do
- era uma vez
que coroava os dias da minha meninice. Lembro-me ainda do beijo que se seguia ao
- e foram felizes para sempre,
um beijo que curava todos os males que as tropelias do dia tinha trazido. Todos.
Depois, cresci. E como todos os adolescentes, guardei as fadas e os príncipes no fundo de mim e fui à procura de outras coisas. Elas também estavam nos livros: a aventura, a liberdade, o amor, o desencanto. Com os livros, ri e chorei, descobri que havia muito mundo para além da minha janela, descobri o encantamento das palavras, percebi que não tenho de ter medos, porque o meu caminho já foi pisado por outros.
Só mais tarde percebi que o lugar dos livros é no coração. Uma espécie de feitiçaria em que o escritor e o leitor se encontram e são felizes. A vida ensinou-me que os bons livros aquecem o peito quando a noite chega e nós estamos tristes. Os bons livros permitem que os nossos olhos ouçam as palavras e nos convidem a ir com elas, numa viagem em que se pode chegar perto do sol sem nos queimarmos ou roubar a lua, apenas pelo prazer de a guardar no bolso. Os bons livros escondem os beijos que não damos, as palavras que escondemos, a vida que gostaríamos de ter. Um dia. Qualquer dia.
Todos os dias somos os protagonistas da nossa própria historia. Todos os dias, lemos e escrevemos a nossa vida. Mas, só nos livros, podemos escolher sonhar ou sofrer, partir ou ficar, voltar para trás, reler, saltar páginas, ou simplesmente, suspender a viagem.
É por isso que me entristece saber que há gente que ainda não descobriu a magia de ler, gente que, simplesmente, matou as fadas que enfeitavam as noites de antigamente.
Os livros querem morar dentro de nós. Querem construir connosco um amor para a vida. No silêncio que guardam as palavras. Na saudade do tempo em que éramos felizes.
E mais: quando todos falham, quando os amigos se vão embora, quando as estrelas se apagam na noite, é lá que encontramos abrigo, porque é lá que dorme o beijo com que o Príncipe acordou a Bela Adormecida e os sonhos que desejam morar no corpo de quem tem coragem de aceitar o convite que um livro nos faz:
- Dança comigo esta dança?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

O tempo é agora.


Não. Não desapareci. Estou aqui em busca de um tempo que desaparece. Um instante. Um momento.

Se voltei agora, foi apenas para não se esquecerem de mim. Não se esqueçam de que as palavras estão por aqui, voo de andorinha numa primavera preguiçosa. Preciso que me ajudem a fazer o ninho.

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um momento


Deixem-me partilhar um momento. Hei-de guardá-lo no aperto que me ficou na garganta, na ternura do olhar, no futuro que espreitava de um lugar imprevisível - uma estação de serviço, algures a caminho de Sines.

Deixem-me partilhar o sorriso, andorinha de beiral, à procura da vida.

Deixem-me experimentar as palavras . Mas, por favor, não me deixem a falar sozinha. ajudem-me a dizer que sim, que se faz um ninho de um qualquer lugar.

Deixem-me ler-vos tambem. O sopro das vossas palavras empurrará as minhas para fora do ninho

terça-feira, 21 de abril de 2009

Sobre o livro Leituras Soltas

Entro, primeiro, na taberna, apenas para fazer uma festa ao gato que, vindo do nada, se instalou na prateleira e dela fez um altar. Não bebo a esta hora. Quero embalar-me com a ternura da lenda que fez nascer a ilha, esta: uma lágrima, uma pérola e o fogo que a ilumina na noite de S. Silvestre, que esventra a terra e explode entre mar e céu, também dentro dos olhos de Carlo Fortuna.
Quando puder, hei-de parar para um café, numa esplanada da Ribeira Brava e rever Pedro, o engraxador, sombra de saudade de um tempo que já morreu.
E hei-de perguntar ao Pescador se precisa de ajuda, mesmo sabendo que ele me vai dizer que não, deslembrado de alegrias e afogando os olhos no mar.
Mas é Novembro em Lisboa. Eu estou dentro da solidão da cidade e procuro em vão a minha alma. Quero parar nas coisas paradas, ao frio e ficar por lá à espera de mim.
Sei então que as palavras de Florbela virão ter comigo. As dela e as de todos os poetas que são a minha vida: “Amo as pedras, os astros e o luar”.
Agora sim. Já posso mostrar as linhas das minhas mãos e deixar que a cigana me leia a sina. Sem medo.
Vou-me embora. Só me falta guardar as palavras na minha bolsa já cheia de tanto tudo. À pressa. Hei-de arrumá-la mais tarde. Tenho de ir tratar do Menino que a Rosairinha roubou, ir com o Agapito até a raiz quadrada da fantasia e abrir as gavetas para fazer ressuscitar as palavras.

domingo, 19 de abril de 2009

Um blogue, para quê?

Talvez porque os tempos mudaram e estamos cada vez mais sozinhos. Talvez porque este seja um lugar onde se pára para ouvir, porque se tem de parar. Talvez para partilhar.
Penso que vou por aí. Quero partilhar textos e impressões, primeiro com os colegas e, depois, talvez, com os alunos. Quero fazer deste lugar um sítio de livros lidos e por ler, de dúvidas e de certezas.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Os livros que valeram a pena




Para mim, valeu! Porque é meu. Porque me tem dentro. Porque guarda memórias de mim e dos meus.

Porquê?

As palavras respiram. Como as casas. Como nós. Pretende-se, então que cada um (se) mostre com palavras suas ou dos outros, partilhando escritos, fazendo deste sítio um lugar de entregas, um lugar de palavras, um lugar de liberdades.
Aqui, procuraremos a ilusão de sermos deuses, de criar, de dominar o mundo e as coisas. Nós, os autores da nossa propria história