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domingo, 7 de novembro de 2010

AMIGOS


Não preciso de dizer quem fala porque eles conhecem a minha voz, o tom da minha voz, a alegria ou a angústia que não preciso de dizer.
Não preciso de pedir que fiquem ao pé de mim, quando o mundo desmaia no meu peito e não tenho nenhum lugar para onde fugir.
Não preciso de procurar um lenço para que as suas mãos me enxuguem as lágrimas e me aqueçam a tristeza para que ela seja menos triste.
Falo de amigos, portanto. Dos que têm um bocado da minha alma dentro da deles. Dos que ficam comigo, nos momentos em que todos os outros têm mais que fazer. Dos que riem comigo, choram comigo, seguram as minhas mãos e me dizem que a vida vale sempre a pena. Dos que me ensinam a redefinir o caminho e me ajudam a usar as pedras do chão para fazer delas, degraus. Dos que me ligam apenas porque tinham saudades minhas. Dos que me ajudam a escrever a vida, todos os dias.
Falo dos que me iluminam as manhãs e as tardes e os silêncios que as noites sem anjos escurecem. Falo dos que têm tempo para mim, para me ouvir, para estar comigo, apenas para isso: ficar.
E falo de mim. Do nada que seria a minha vida sem amigos. Da solidão dos meus dias sem abraços. Do medo da noite sem luares. Da tristeza.
Não falo do facebook, não. Não falo da contabilidade dos que me visitam nos sítios da net. Não falo dos que se sentam ao meu lado no autocarro e conversam comigo sobre o tempo, sobre a crise, sobre a falta de valores, sobre qualquer coisa.
Falo de gente, dos poucos que partilham os meus sonhos, dos que me contam os seus, dos que não têm medo do que eu vá pensar se me disserem a verdade, dos que deixam que eu faça parte das suas vidas, dos que não têm medo do silêncio quando não há palavras para dizer.
Falo de nós. E guardo neste pronome todos os nomes. Ponho-lhe um coração à volta. Peço a Deus que os guarde, no para sempre que durar as nossas vidas.

6 comentários:

  1. Que palavras tão bonitas! Tocam-nos profundamente e fazem-nos pensar naqueles que, apesar de não estarem connosco no nosso dia-a-dia, continuam presentes e muito especiais,… Amiga, espero que o meu nome esteja dentro daquele coração que desenhaste, pois o teu está sempre dentro do meu.

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  2. Obrigada pelo teu texto, Leonor. Acompanhei as tuas palavras do princípio ao fim e gostei do desenho que compuseste: um belo e fiel retrato de 'amigo'! Nestes tempos conturbados, uma preciosidade.

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  3. Profundo: o amigo.
    Muito interessante, do ponto de vista construtivo. A força de um "não" breve, de três frases que sintetizam toda a vacuidade das aparências, contrapondo-se à extensão da essência. Bravo!

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  4. O teu texto é um retrato fiel da verdadeira amizade que só tu consegues traduzir em palavras desta forma. Adorei!

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  5. É por isso que tens tantos amigos; porque te dás.

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