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quinta-feira, 3 de março de 2011

SOBRE MÂOS

Lembra-se das mãos do seu pai e da segurança de a ter apertada à sua? Lembra-se da doçura da sua mãe, quando a ternura das suas mãos lhe limpavam as lágrimas-meninas das primeiras desilusões?
Pois, hoje, lembro-me delas. E deixo que a memória as aqueça na frieza das minhas saudades. É por isso que escrevo mão, com o espanto que a própria palavra me dita, com a boca redonda de beijo que o som único desta sílaba me diz. Escrevo mão e vejo nelas os olhos dos cegos e a voz dos mudos. Escrevo mão e desenho o movimento de cada gesto – o da mãe que, com elas, embrulha o corpo do seu filho, o do menino que agarra a mão do amigo e faz com ele uma roda, o do jovem que contorna o rosto do amor e entrelaça os seus dedos nos dedos do futuro, o do homem que lança a semente à terra para a recolher depois, o do velho, cansado, que a apoia na bengala, quando o chão lhe começa a chamar o corpo. Escrevo mão e vejo-a levantar-se para limpar as lágrimas que se escondem, depois, no bolso da solidão. Escrevo mão vejo-a conduzir outra mão, no lado a lado de que é feito o nosso caminho.
Olhe para as suas mãos. É só bocadinho. Sinta-as abertas, percorra os sulcos das linhas que lhes riscam as palmas. Pense nelas e no que elas já fizeram antes de segurarem esta folha de papel. Foram elas que iniciaram a manhã,
-em nome do Pai, do Filho, do Espírito Santo;
foram elas que acariciaram o sono do seu filho e lhe disseram, sem palavras,
-são horas, meu amor!;
foram elas que repartiram o pão e enfeitaram a imagem que vive dentro do espelho; foram elas.
E pense nas outras. Nas que, todos os dias, se levantam num aceno, nas que apertam as suas, nas que lhe seguram as dores. Pense nas mãos que tratam das suas feridas, nas que trabalham para que a sua vida seja melhor, nas que fazem aquilo que as suas não fazem, nas que se estragam para que as suas continuem bonitas.
Pense nessas mãos. As suas e as dos outros. As que o trouxeram à luz e as que, um dia, hão-de fechar os seus olhos. As que são a paleta de Deus. As que fazem com que este dia seja melhor.
Agradeça a sua presença na sua vida.
Já beijou as mãos de alguém? Hoje, beije também as suas.
Pronto. Agora sorria. Vamos trabalhar.

1 comentário:

  1. Ai as mãos que sendo como conchas nos dão de beber, nos serenaram e nos disciplinaram.
    Ai as mãos que foram carícia e direcção.
    Ai as mãos que eu tenho para tocar
    Ai as mãos que outros nem sabem o que são
    Apesar de serem o prologamento do coração.
    Ai as mãos!

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