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sábado, 8 de outubro de 2011

CRESPÚSCULO(S )

O pior do tempo que passa é o silêncio do que não se viveu. É isso que dói no espelho: a imagem baça de um olhar sem luz, os regos secos de uma pele sem brilho, a solidão noturna de uma janela fechada.
Passamos a vida a envelhecer. Sem nos darmos conta, estamos sentados à porta da vida, com o horizonte no chão. Sem que as horas nos avisem, as nossas mãos desmaiam no colo e a memória afoga-se dentro do peito. Sem nos apercebermos, estamos sós, dramaticamente abandonados ao fim, como se não houvesse futuro, como se não houvesse calor, como se de nada tivesse valido toda a luta, todos os sacrifícios, todo o amor.
De repente, meus amigos, o nosso calendário só tem ontens, o nosso mar fica vazio, as gaivotas já não acordam as nossas manhãs. De repente, o mundo fica confinado ao nosso quarto, as palavras ficam escondidas na garganta, o medo toma conta de nós. De repente, já não há ninguém para conversar, já não há ninguém para abraçar, já ninguém diz,
- tem cuidado, volta cedo,
porque já não há ninguém.
Por isso, esta é a hora. Em ponto. É a hora de olhar para quem já viveu, de beijar as mãos que já nos acariciaram, de beber os exemplos de quem andou a marcar os nossos caminhos.
Amanhã, se Deus quiser, há-de ser a nossa vez. E vamos gostar – certamente - que nos sorriam, que nos abracem, que cuidem de nós.
Hoje, agradecemos a vida. E pedimos que nunca, mas nunca, nos deixemos cair na tentação de nos esquecer de viver. Porque o pior do tempo que passa é quando o espelho só nos mostra o que não se fez.

1 comentário:

  1. Bom dia. Comecei a ler,fui andando e já vou adiantado na leitura. Como eu gosto desta escrita, desta forma de dizer as palavras, da simplicidade dos desenhos que elas fazem em mim. Vou continuar a saborear este momento sagrado...Obrigado pela partilha.

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