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segunda-feira, 26 de setembro de 2011

outonos


Dantes, escrevíamos o outono com o amarelo das folhas que as árvores semeavam no chão; falávamos no adeus dos pássaros, no cheiro da terra molhada ainda cansada de sol, no primeiro dia de escola e no futuro que isso trazia.
Dantes, o outono era uma estação poética de uma luz (ainda) quente, de um mar (ainda) manso, do resto das uvas e do amanhecer das maçãs que começavam a luzir nos quintais.
Hoje, o outono escreve-se de outro modo. Reveste-se da metáfora da vida, de um tempo que passa, que voa, que acaba.
Do verão, fica a saudade, na dor (recente) do que já acabou. Ficam migalhas trigueiras das férias, ficam retratos fechados, calados no computador, ficam as horas que correm, loucas, para o inverno. Porque é lá, nesse tempo de lágrimas brancas e de marés ventosas e de casacos pesados, que afogamos os nossos olhos.
Somos passado ou futuro. Nunca presente. E, por essa razão, não vemos, agora, a poesia clara desta estação. Não ouvimos os segredos do vento que bate na vidraça. Não sentimos o amor dos que (ainda) estão connosco. Não olhamos o tapete castanho que Deus pôs a nossos pés, para podermos passar.
Temos de amar este outono. Porque ele é agora. Mesmo que as folhas do nosso corpo estejam a amarelecer, mesmo que as nossas asas andem a procurar outros mares, mesmo que
Só temos de perceber - mesmo que doa! – que é preciso ir para se poder regressar; que é preciso chorar para se poder rir; que é preciso inverno para ser verão, outra vez.
Há muitos outonos na nossa vida. Este é um deles. E é preciso espreitar a poesia que mora na mansidão quentinha da sua luz e entender a liquidez redonda do tempo que vai e volta diferente, que morre para nascer outra vez.
O outono, meus amigos, é o alimento da primavera, o húmus do amanhã.

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