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quarta-feira, 7 de julho de 2010
da ilha e de mim
Quando me sento na boca do vulcão, olho para dentro da ilha. O seu ventre de fogo e magma guarda os segredos da força que rasga a terra em partos de verde. É daqui que caseio o mundo. Cada ponto do meu bordado esconde as raízes que me prendem a este lugar. Bordo a minha vida, embalada pelas palavras do vento que vem do chão onde me plantei.
Conta-me histórias antigas de lágrimas do céu que caíram em chuva e afogaram o fogo do princípio dos tempos. Fala-me de homens que vieram do mar e desbravaram os gritos calados da floresta. Fala-me da bravura das mãos que abriram rugas na terra e subiram as encostas e construíram as casas no abraço das vides. Fala-me do arrepio das paredes da serra, quando a água escorre em cascatas, riscando os montes de branco.
Derramo o bordado sobre o colo. Calo o bater do meu peito para ouvir o silêncio da ilha. E olho para o horizonte, porta de entrada de gente, porta de saída de sonhos. Está lá o mar, a abraçar de azul e futuro a minha vida. Há mais mundo para além da praia. Muito mais.
Agora, deixo falar as marés. E elas contam de um mar branco de açúcar, enfunando as velas das caravelas. Contam de regressos e de desenhos sagrados da Flandres, guardados em arcas e depositados na beira do vulcão. Falam de saques de piratas, de fomes e de lutos. Falam de um tempo que já não é, porque as gaivotas o levaram.
Estou sentada na boca do vulcão, mesmo à porta do mar. E sei que viver aqui é ter o mundo dentro de mim e tê-lo também a meus pés, imenso, à minha espera.
Tenho o bordado no colo, os olhos no horizonte. Da varanda da ilha, vejo a vida. Do alto do Monte, a Senhora sorri. E eu sou feliz.
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Que coisa linda....
ResponderEliminarJá tinha saudades desde bordar das palavras.
ResponderEliminarTão lindo que fiquei sem palavras. É como se estivesse sentada na beira do vulcão, mesmo à porta do mar e me deixasse afogar na beleza do teu texto!
ResponderEliminarRendas de palavras na ilha dos bordados...
ResponderEliminarParabéns!