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quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DEPOIS DO NATAL, O NATAL

E pronto. O dia de Natal acabou: levantou-se a mesa, arrumou-se os presentes, guardou-se a louça da festa, apagou-se a lareira e o que ela implica de gente à volta. De repente, escondeu-se o abraço e perdeu-se a alegria, no meio dos papéis de embrulho que sobraram.
Já se voltou ao trabalho, às contas, à correria da cidade. Os olhos lambem, gulosos, os saldos que as lojas anunciam. Os sinos calaram-se, um pouco assustados com as bombas que prepararam o fim do ano. Os meninos já espalharam os brinquedos pelo chão da sala, porque os brinquedos só têm interesse no momento em que os laços são arrancados e lhes dão a ilusão de que são felizes porque têm tudo o que pediram.
O que ficou, então? As roupas que, afinal, não são o que pareciam nos manequins das montras? As sobras da comida que se deita fora, a pensar na fome dos outros? O buraco que fica no ar quando as gargalhadas se calam? O eco azul das vozes dos anjos que já não há tempo de ouvir? A cabeleira verde das searinhas que é preciso aparar?
Dentro de nós, talvez tivesse ficado o cheiro das tangerinas que importámos da nossa meninice, o brilho doce das purpurinas coladas ao tapete, o som das palmas do Menino acabadinho de nascer, o calor do beijo da mãe,
- Boas festas, meu amor!
que se guarda para sempre, junto do silêncio protector do pai.
Ficou o momento cristalizado do abraço que se segue ao presente que custou tanto a comprar, a lágrima que deslizou para a mão do doente que alguém velou no hospital, o beijo na mão de quem estendeu o prato de sopa a quem ficou só, neste Natal.
E agora? A verdade é que a lapinha ainda está montada, as luzes ainda rasgam de cores a noite das ruas, o tempo ainda cheira a perfume. Portanto, a proposta é guardar o Natal dentro de nós, naquele sítio onde se guarda o que é bom, onde se deposita a esperança e o sorriso gaiato de quem acredita no futuro. Depois, quando os dias de luz acabarem, vamos ao fundo do peito buscar o que falta: a ternura do Menino, o aconchego da Mãe, a serenidade do Pai, a alegria dos pastores, a paz dos anjos.
Preciso de si, agora. Ajude-me, por favor, a não deixar morrer o Natal. Conto consigo!
- Boas Festas!

1 comentário:

  1. ele fica guardado em cada dia que passa
    em cada noite que nos dá descanso
    Em cada flor que desabrocha ao sol da manhã
    Natal não precisa ser guardado, mas vivido da dia.
    Bom ano, minha amiga!

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