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sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Vamos plantr a saudade?

Os olhos da ilha estão postos no mar. Os nossos também. Esticamos o nosso horizonte até à saudade. E percorremos a vida até chegarmos ao lugar exacto onde o tempo nos separou de alguém e fechou portas que, um dia, estavam abertas.
Um anjo sobrevoa o nosso olhar. Traz-nos gargalhadas penduradas nas asas, histórias antigas, canções de embalar. Traz-nos lembranças de Deus e da alegria de uma festa que já se arrumou nas caixas e se guardou no fundo do armário.
Temos saudade, sim. A nossa história ensinou-nos a definir as ausências, a acreditar nos regressos, a gerir os sentimentos que ficam no cais, quando o barco se afasta e os olhos chovem sobre o silêncio.
Temos saudades de quem já não está, do que já não se vive, do que já não se pode sentir. Temos pena de não ter aproveitado mais cada momento, cada beijo, cada aperto de mão, cada palavra que enfeitou o desespero, cada sorriso, cada manhã.
Os meus olhos sentaram-se, hoje, ao balcão e olharam a distância como se fossem os olhos da ilha. E perceberam como é bom isto da saudade, esta dor que não magoa, porque feita de amor, porque feita de beijos que a vida nos dá e nos permite ir buscar quando o mar é apenas água salgada.
E resolvi que havia de plantar saudades. Posso precisar delas qualquer dia. Posso precisar de sentir quanto valeu a pena viver a minha vida. Já temos o terreno – o coração. Falta apenas fazer a sementeira. Precisamos de sorrisos, de palavras boas, de gestos, de abraços. Precisamos de amigos, de amor, de entrega. Precisamos do sopro de Deus que os outros nos oferecem. Precisamos de coragem.
Esta semana, vamos plantar a saudade. Fazer da vida um milagre. Abrir as portas de ser feliz. Esta será uma semana para guardar na memória. Um dia, podemos vir a precisar dela, naqueles dias em que a poesia não se senta à mesa connosco e os olhos, debruçados no mirante, não conseguem ouvir a canção do mar.

2 comentários:

  1. "E resolvi que havia de plantar saudades."
    Minha amiga, eu resolvi que havia de colhê-las, mas os meus braços são escorrgadios, e elas cairam por entre os dedos das palavras e os abraços do desejo.
    Pensei que as podia fechar no cofre das memórias passadas, mas elas escaparam pelo segredo da chave e plantaram-se no meu coração. Obrigam-me a pintá-las nas palavras que escrevo, como se fossem plantas, flores e árvores de algum jardim. O jardim da nossa memória colectiva.

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  2. Plantei-a. Reguei-a com memórias, palavras, gestos amigáveis, gotas trémulas e salgadas que, incansavelmente, teimaram em deslizar pelo meu rosto outonal. Adormeci sobre o tapete macio e acolhedor da saudade. Saudades daqueles que mesmo não estando connosco há anos, há meses, há dias, cimentaram o valor da amizade, da vontade de reencontros, de partilha de alegrias, tristezas e da recolha dos frutos aprazíveis da saudade.

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