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sexta-feira, 15 de abril de 2011

LÁGRIMAS


Quando a maré enche dentro do peito, há uma gota de mar que queima nos olhos e traça caminhos de lume no rosto. Nesses dias de fogo líquido, há histórias suspensas nos silêncios: são histórias de felicidades ou de dores, de chegadas ou de partidas, de nascimentos ou de mortes. Nesses dias de maré quente, o tempo guardado em apertos na garganta, explode. São as lágrimas que rasgam a angústia ou diluem a alegria que, de grande, não cabe dentro da gente.
Falo de lágrimas, hoje. Porque as lágrimas são a expressão mais pura da nossa humanidade. Porque são a forma que a alma encontrou para expulsar as incapacidades da nossa pequenez. Choramos porque sim. Porque somos gente de chorar, como somos gente de rir. Porque temos sentimentos e amamos e sofremos e rasgamos as raivas. Porque temos coragem de sermos sensíveis e poetas e meninos. Porque precisamos desse mar para nos aliviar da profundidade dos grandes sentires.
As lágrimas de todos os homens são iguais: “Nem sinais de negro,/ nem vestígios de ódio./Água (quase tudo)/ e cloreto de sódio” . Às vezes, fazem ver o perdão; outras vezes, mostram coisas que os olhos secos não deixam enxergar. As lágrimas são sinal de bem-aventurança, porque nos irmanam, porque nos renovam, porque limpam os excessos que nos impedem de olhar para o que vale a pena.
Em cada lágrima, uma história. Dou por mim a pensar que Deus há-de recolher as lágrimas de todos nós e fazer com elas o mar que vejo lá em baixo, a refrescar os pés desta cidade. Por isso, olhar para a imensidão de azul que nos cerca é olhar para os olhos de todos os homens que tiveram a humildade de chorar. Estão lá todas as vergonhas, todos os sucessos, todos os medos, todas as conquistas, todas as alegrias, todas as dores, todas as emoções. O estado líquido do mar é feito do choro das caravelas, do pranto das despedidas, das solidões.
Às vezes, quando o sol as bebe, as lágrimas sobem ao céu e tomam a forma de estrelas ou de pingos de chuva. Outras vezes, solidificam no fundo do mar e disfarçam-se de pérolas. O mundo é feito também da matéria das nossas lágrimas. Elas são a voz da nossa humanidade. E valem todas por igual.
Vê o mar? Está a enchê-lo de histórias novas. E o Guardador das Lágrimas vem consolá-lo, já, já. Amanhã, haverá uma nova estrela no céu.

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