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sábado, 23 de abril de 2011

POR ESTES DIAS DE PÁSCOA

Quando a noite se enrola nos nossos dedos e o luar apaga o que resta de luz, olhamos para o Céu, à procura das estrelas. Mas, às vezes, os nossos olhos têm uma cortina de bruma e não vemos nada. Absolutamente nada. São as sextas-feiras (ora santas , ora não) das nossas vidas: tempo de angústia e de dúvidas, tempo de solidões e de lágrimas; tempo de deserto e de vazios. Nesses dias, a cruz rasga os restos dos véus dos nossos templos. Implacável. Como se nada fizesse sentido.
Mas há um Homem abraçado à nossa Cruz. Quando damos conta da Sua presença, a dor fica mais branda e o rasgo do ar fica com a forma de um sorriso. Há-de ser o Sorriso Iluminado de Deus que aquece o nosso frio.
Aos poucos, a nossa cruz vai tomando a forma de um abraço e vai guardando o rio dos nossos olhos dentro do peito. O peito da cruz tem a forma de um coração. O coração do Homem está agarrado à nossa cruz. E segura nela como se o Seu coração fosse o colo da nossa mãe. É feito da essência do amor.
O silêncio faz-se grito, então. É um Aleluia florido de sinos, doce de amêndoas de chocolate, perfeito, tão perfeito que não cabe dentro da nossa alegria. Há vozes de mulheres iluminadas de vida que passam a palavra: Ressuscitou! Há esperança. Afinal, há espaço para a esperança dentro do nosso sofrimento.
É domingo. De manhã. Primavera. Há um anjo sentado à nossa espera. As asas cobrem o nosso medo. A nossa dor está em cacos, no chão, enrodilhada nas ligaduras. A morte também. Em pó.
E o mar abriu-se para nos deixar passar. As nossas cruzes servem de bordão. Somos muitos. É Páscoa. Deixámos a solidão no chão das três da tarde.
O Homem da Cruz afinal era Deus.

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