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domingo, 10 de abril de 2011

O SILENCIO DE DEUS

O silêncio de Deus nem sempre é branco. Quando a nossa vida se derrama, tem valor de solidão e não responde às lágrimas, nem aos pedidos, nem aos segredos que guardamos na intimidade de nós. Quando o dia se levanta, porém, o silêncio de Deus tem cores de sol e de mar e de campos floridos e de amigos.
Gostava que as minhas palavras se envolvessem nesse silêncio, no que deixa falar os sentidos, no que desnuda o coração, no que permite que se escute a voz das sílabas, o canto dos pássaros, a poesia que as flores declamam ao rasgar a terra. Preciso deste silêncio para que as palavras fluam na verdade do que sou, do que quero dizer. Preciso deste silêncio para falar de esperança.
O silêncio de Deus nem sempre é bom. Quando perguntamos a razão da dor e do medo, tem valor de terra árida e não diz nada à noite que se apagou de estrelas, nem à força das tempestades, nem à vergonha que escondemos dentro dos olhos. Quando a calma volta, porém, o silêncio de Deus é beijo de fruta acabadinha de colher.
Gostava que as minhas palavras soubessem a este silêncio, ao que adoça a amargura das horas, ao que afoga as metáforas más, ao que esconde os desencantos, ao que mostra a luz e o horizonte,
O silêncio de Deus nem sempre é compreensível. Quando a morte chega, sorrateira, e engana os sonhos da juventude, tem valor de chuva de verão e não responde às dúvidas, nem à traição, nem ao desamor. Quando o sol regressa, porém, o silêncio de Deus veste-se de Ressurreição.
Gostava que as minhas palavras se vestissem também deste silêncio, o que lembra a roupa feliz dos domingos de manhã, o que ilumina as casas e as memórias boas, o que traz alento à falta de tudo.
Face às tragédias da vida, parece-nos, muitas vezes, que Deus se cala. Não ouvimos nada dentro do nosso pranto. Talvez seja preciso que deixemos que esse silêncio se transfigure em nós. Como as sementes que morrem no chão. Como os pássaros que vão e que voltam. Como as asas da primavera que voltam a acordar as nossas manhãs.
Gostava de envolver as minhas palavras nesse silêncio. O de Deus. O que deixa ouvir o canto dos pássaros, o mar no calhau, os nossos próprios silêncios.

1 comentário:

  1. Quanto ruído assola o nosso dia?
    Basta apenas um minuto de silêncio das palavras indizíveis para na melodia divina encontrar o equilíbrio dos dias.

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