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segunda-feira, 9 de maio de 2011

FESTA DA FLOR

Venha comigo beijar a cidade. Deixe-se enfeitiçar pela beleza das flores que enfeitam as ruas. Deixe-se embebedar pelo aroma doce dos miúdos que desfilam nas ruas despidas de angústia. Deixe que o seu coração arda no abraço da festa. Deixe que o tempo se espreguice na meiguice dos olhos que se espalham nas montras, que se derramam nos jardins inventados da praça, que se pousam nas mãos que pegam ao colo o que a natureza oferece.
Deixe-se ir. Olhe para cada sorriso que se cruza com o seu. Sorria também. Talvez assim a dor fique mais branda. Talvez assim a primavera amanheça neste maio que arde no peito como se fosse Emaús, como se os caminhos não estivessem despidos de passos, como se o dinheiro ainda desse até ao fim do mês, como se
A rir, como se a vida fosse só isso – rir – duas crianças. A mais velha tem flores na mão. São flores pobres daquelas que não se compram nas floristas, são flores das que se apanham no chão dos jardins dos outros, são flores básicas, daquelas que qualquer menino sabe desenhar na inocência branca da folha da escola. Trá-las em punhado, ensolarando a mão. Trá-las assim: apertadas, como se ali se escondesse o futuro, apertado, ele também.
Não tem nome. A menina da minha história não tem nome. Nem idade. Nem mais nada. Tem, ao colo, um menino que lhe chama
- mãe.
Mãe é o nome da menina da minha história. Deixou os sonhos floridos de rosas vermelhas, no dia em que acreditou na ilusão de um amor menino que lhe oferecia um ursinho de peluche no dia dos namorados.
Traz flores brancas na mão. E ri. Como se a vida fosse de rir. Há-de fingir que vai para a festa. Há-de falar ao menino e dizer-lhe,
- meu amor,
como se isso fosse o bastante, como se as flores da festa fossem para eles, como se
Venha. Vamos deixá-los acreditar que amanhã ainda vai ser melhor, porque amanhã. Só por isso. Por ser amanhã.
Escolha a sua flor. Já escolhi a minha. Ponha-a na lapela, ou no cabelo ou no peito. Deixe que ela perfume a sua vida.
Ouça a música que a natureza lhe oferece. É para si. Ouça-a. Deixe-se ser feliz. A cidade tem um beijo escondido para lhe dar. Aceite-o, por si, por mim, pela esperança que o riso da menina da minha história nos traz.

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