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domingo, 18 de setembro de 2011

11 de setembro

Há dez anos, o coração do mundo tremeu. De espanto. De medo. Nesse dia, os olhos do mundo inundaram-se. Com a água das bombas. Com a água do peito. Nesse dia, as mãos do mundo levantaram-se. Incrédulas. E caíram. Desalentadas. E levantaram-se, outra vez. Lutadoras.
Ainda me dói a memória desse dia de lume e morte. Dói-me o grito que se prendeu na garganta da terra.
O meu mundo [como o de toda a gente] centrou-se na televisão da sala. Como estivéssemos a ver um filme. Como se fossemos, nós próprios, protagonistas do que víamos, em directo. O medo coube nesses instantes e a tarde escureceu.
As torres eram um lego e as pessoas bonecos em fuga para o nada, folhas de outono antes do tempo.
Não sei em nome de quê se mata assim. Sei que, nesse dia, os homens ficaram suspensos e o mundo nunca mais foi o mesmo.
Dez anos depois, a escrever à luz da memória e das imagens que não se pode deixar esquecer, pergunto-me o que aprendemos. Talvez que tudo é breve e frágil e susceptível de acabar. Talvez que o coração do homem é capaz de tudo. E que nada é seguro. Aprendemos que se mata e se morre, como se matar e morrer fosse apenas um jogo de computador.
Aprendemos pouco. Muito pouco. Continuamos a inventar explicações para a nossa crueldade. Continuamos a viver como se a morte nos passasse ao largo. Continuamos a não dar valor às coisas pequenas como as flores e as gargalhadas e o azul do céu em dias de calmaria. Continuamos a acreditar na inexpugnabilidade das torres que, todos os dias, construímos para mostrar o nosso poder. Aprendemos pouco. Tão pouco. Aquele ground zero também existe, às vezes, dentro de nós.
Talvez daqui a dez anos, a Historia se conte doutra maneira: que a água que corre na fundura daquele chão se transformou em vida, lavou o terror e se travestiu de esperança. Porque naquele lugar, também, [e não nos podemos esquecer disto] homens deram a vida para salvar outros homens. Porque naquele lugar, todos os dias, alguém reza e chora e acredita.
Talvez daqui a dez anos. Não. Hoje. É hoje que começa a transformação do mundo.

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